RAIOS FÚLGIDOS
Quando nasce o poema,
Eu me transcrevo nas vísceras do amor;
Mas a desgovernada placenta
Entristece o sistema...
Os meus versos
Fulguram no orvalho das infiltrações transcendentais;
Mas o deslize esquálido
Desvanece os meus pomares...
Os raios fúlgidos
Entorpecem-me demasiadamente
Nas manhãs defuntas
Na inglória dos meus devaneios...
O ritmo indisperso
Da agonia dilacerante e lucífera
Comove as avenidas inundadas de enchentes dementes
E a impaciência dos obstáculos...
O poema nasce
Desastrosamente melancólico
Pois a impertinência dos raios fúlgidos psicodélicos
Desemboca no meu ego...
Quero do meu poema
A paisagem translúcida e bucólica,
Pois o ensejo transfigurado
Prescreve a morte...
II
Nada tem relevância
Se o assassínio da voz multiesfacelada
Permanece neutro e inalterado
Na minha inércia...
As luminosidades matinais
Proliferam as fezes encarniçadas de desumanidades,
Pois a nossa mendicância defeca-se
No encurvado das ruas...
E as borboletas são flores
Que sobrevoam infectadas (submissas ao vento),
E a delicadeza da nuance nos matizes
Degreda os miseráveis...
Os versos do ilogismo
Desconectam-se dos sentidos literais dos signos,
Pois a invernada do meu hermetismo
Desfaz-se do meu senso crível...
Escrevo estes versos
Com a minha alma truncada no meu passado excepcional,
Pois o meu amor encontra-se delirando
Nas instalações de Copacabana...
III
Um beijo de amor
São raios fúlgidos esguiolentos inquestionáveis;
Mas silencia os espasmos oníricos
Da minha fenação...
Desafio o meu silêncio
Na amargura punitiva dos meus luzeiros tribais;
Mas a obesidade dos meus pensares
Inicia-me impertinente...
E os raios fúlgidos
São moléculas estelares
Luzindo os meus caminhos tortuosos...
(por Fabiano Montouro
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 24/09/2010