POEMA MORTO
O poema nasce morto;
Mas a deselegância instantânea do letal
Pode perpassar o anonimato
Do poeta desolado
O poema morto
É a hiperatividade introspectiva da ociosidade;
Mas a minha mediocridade poética
Desnorteia o catolicismo...
Os meus versos azedíssimos
Não podem levitar o teu inefável fel,
E a tramóia transcendental
Desvanece o luar...
Sentir esta força
(que transpassa os anciões endeusados das masmorras)
É deslizar nas marés abismadas
Da manhã defunta...
Chocalhar este feto
(nas andanças lucíferas dos réus)
É debruçar-se no relento das madrugadas ímpias
Neste meu tempo pervertido?
Como dignificar a minha persistência
Nesta circunstância mórbida?
O poema morto expele a depressão
No apogeu do ópio...
II
Como andar na linha
Se a minha desilusão desfere prevalecida
A violência do amor ofendido?
E o poema está morto...
A solidão não me assusta;
Mas destrói a magia dos significantes existenciais,
Pois as desistências dúbias desastrosas
São translúcidas de paixões.
A possessividade do desânimo
Pode devorar a carne nua e sangrenta;
Mas o desatino desintegrado
Irriga o meu pensar...
Os meus versos
Renunciam o poder do estrelato da arrogância;
Mas exalam os mistérios angulosos
Do poema que nasceu morto...
(por Fabiano Montouro)
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 24/09/2010