O PERDÃO AOS INIMIGOS
Esta é uma questão das mais delicadas da moral filosófica de Jesus Cristo: perdoar os nossos inimigos é algo que realmente nos soa muito mal aos nossos ouvidos... Como perdoar um irmão que simplesmente devastou a nossa vida, levando-nos ao abismo das trevas e do suicídio? Que arruinou a nossa vida artística, cultural e empresarial, para usufruir-se de uma modesta pensão militar materna? E muito mais difícil fica a situação quando não ocorre o arrependimento deste irmão, que se esconde, covardemente, sob a proteção de uma quadrilha de usurpadores... Eu tenho sido muito paciente com este infeliz, e tenho feito mais do que isto: tenho orado a Deus para que ilumine o espírito deste meu irmão, que se encontra obscurecido pela cegueira monetária... Tenho esperado, incessantemente, o seu arrependimento para que eu possa perdoá-lo: para ele, os seus atos lucíferos foram justos, tendo feito o que devia ser feito... E eu sou apenas um vagabundo, e louco, pretensiosamente julgando-se um artista: é isto que ele e sua quadrilha pensam a meu respeito...
Com uma abertura desta, fica difícil compreender a dimensão do perdão em nossas vidas. Deus, que é pai de todos nós, perdoa todos os nossos pecados; mas é preciso que tenhamos o arrependimento de nossas faltas e, posteriormente, a reparação de nossos pecados deve ser cumprida, indubitavelmente... Se Deus nos perdoa desta forma contundente; precisamos perdoar os nossos inimigos analogicamente a de Deus... Estou ansioso por perdoar o meu irmão; mas de que jeito se ele não se arrepende pelo que ele fez: fez horrores contra o irmão e contra a própria mãe; mas não se arrepende... Como perdoá-lo sem o seu arrependimento? Como conscientizá-lo das faltas cometidas se julga ser o dono da própria justiça? Quero perdoá-lo; mas sinto que ele, tendo que fazer tudo de novo, não hesitaria um segundo que fosse para me crucificar outra vez... Ó Deus, como posso perdoar o meu irmão, que reina na sua ignorância iletrada? Se eu fosse um espírito medíocre já teria me vingado de todos os envolvidos nos crimes bárbaros acometidos contra a minha mãe e contra mim; mas não sou vingativo: sou justiceiro! Não quero o Mal a quem quer que seja; mas quero ver a justiça divina triunfar diante a hipocrisia lucífera dos meus inimigos...
Abordar uma questão familiar pode até ser imprópria aos reais interesses do leitor; mas se perdoar um ente querido é muito difícil, não podemos nos esquecer que os inimigos estranhos, e distantes, podem ser menos perigosos do que os membros da nossa própria família... O fato de não nos vingarmos dos nossos inimigos já é meio caminho andado, para alcançarmos a divindade de perdoá-los... Mas não podemos deixar de entender que é preciso que ocorra o arrependimento do pecador, para que possa ser perdoado... E ficar oferecendo a outra face, como nos ensina Jesus, pode se tornar muito perigoso, dependendo da situação... Quando alguém comete um crime e nada acontece contra ele, julga-se intocável, acabando por repetir as maldades... Entregar para Deus (como muitas mães fazem, acobertando os crimes dos seus filhos) pode gerar grandes tragédias familiares... Todo o crime deveria ser julgado no momento oportuno; mas quando isto não acontece, é Deus que aciona, há seu tempo, a sua justiça divina... E da justiça divina ninguém escapa: os espíritos endurecidos, que custam a se arrepender, ficam vagando nas regiões obscuras dos mundos espirituais, e, às vezes, levam milhões de anos para se arrependerem e, então, receber o perdão divino – depois de serem perdoados por Deus, estão aptos a reencarnarem e repararem as suas faltas da vida anterior... É assim que eu penso que devemos ver esta questão das ofensas recebidas, e a questão de como devemos perdoar os nossos inimigos...
Se você tem inimigos não os perdoe tão-somente, sem que antes eles possam se arrepender dos seus crimes: quando vierem humildemente reconhecer que falharam contigo, dê-lhes o perdão; e se não puderes impor-lhes a justiça dos homens, por motivos de ordem pessoal, entrega o caso jurídico aos cuidados do nosso Deus onipotente... Na hora certa, ninguém escapa da justiça divina...
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 23/09/2010