O TEMPO E A ETERNIDADE
Escrever sobre dois temas tão diversos e tão distintos exige do escritor alguma coisa mais do que um simples raciocínio intelectual: o amadurecimento científico e filosófico do Espiritismo aliado ao amadurecimento do espírito vanguardista são influências contemporâneas para um discernimento plausível à serenidade destas duas visões diferenciadas e cosmológicas... Quero crer que possuo os ingredientes necessários para abordar estes dois temas de forma categórica, ampla e irrestrita. Mas se a minha vaga intenção intelectual não alcançar às expectativas que o texto complexo por si só exige, deixo aqui, desde já, as minhas envergonhadas desculpas pellisolianas...
Seguindo a ordem do título, abordarei em primeiro plano as minhas especulações sobre o Tempo. Depois de muito pensar sobre a natureza do Tempo, concluí que ele é material. É isto mesmo, o Tempo é material! Ele está englobado dentro dos mundos materiais; e como todos os mundos materiais são cíclicos, o Tempo é cíclico: isto é, tem o seu início, o seu meio e o seu fim. E é através dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias, dos séculos e dos milênios que podemos observar a sua passagem momentânea. Quando um planeta explode, encerrando o seu ciclo, o Tempo que estava englobado no mesmo explode junto. Portanto, não tenho nenhuma dúvida de que o Tempo é material. O que sobra do Tempo, se é que sobra alguma coisa, é a memória embutida no perispírito de todo e qualquer espírito. O mundo material, sem dúvidas, comporta os corpos materiais dos organismos orgânicos e inorgânicos, e é regulamentado pelo Tempo. No nosso planeta Terra, o Tempo é representado através de um aparelho, ou de uma máquina, chamado relógio: eis aqui a comprovação que o Tempo é material! E se o Tempo é uma máquina de marcar os momentos, além de material é, também, limitado. E como todos os mundos materiais estão contidos nos universos espirituais (ou espaços), o Tempo está submerso na Eternidade. E se isto é verdade, o Tempo não existe, sendo apenas uma ilusão material: pois, em verdade, os mundos materiais são, também, ilusões materiais... Eu sei que é um pouco complicado entender as coisas desta maneira, por esta ótica, principalmente para os céticos materialistas; mas a realidade não está dentro do Tempo e sim dentro de uma única Eternidade...
Passando para o segundo plano do texto, e seguramente o mais incógnito e mais complexo, tentarei abordar os possíveis conceitos da Eternidade, estacionando, é evidente, nos labirintos da minha ignorância...
A Eternidade é a única entidade que se iguala a Deus no seguinte atributo do criador: Deus não teve início e não tem fim. Pois, segundo o Espiritismo, a Eternidade não teve início e não tem fim. Ora, se a Eternidade não teve início, evidentemente que não foi criada por Deus. Sendo incriada, e Deus incriado, sempre existiu e sempre existirá. É, portanto, a única entidade conhecedora dos segredos de Deus, pois sempre presenciou tudo e sempre presenciará. Como o nosso Deus único, ela é infinita em todas as suas perfeições... Sabemos que Deus é imaterial e imutável, pois a Eternidade também é imaterial e imutável. Em verdade, todos os atributos de Deus são perfeitamente adaptáveis à Eternidade. Tanto que eu, ínfimo pecador, cheguei a pensar na possibilidade da Eternidade ser o próprio Deus (ou Deusa). Mas esta possibilidade, depois de um estudo mais criterioso, deixou de ser pretensiosa em meu intelecto. É sabido, pelos estudiosos do Espiritismo, da unicidade de Deus: ou seja, só existe um único Deus. Deus é o criador de todas as coisas que existem (materiais e espirituais). Mas porque não criou a Eternidade? Tendo ela sempre existido como Deus, só posso pensar em duas situações: ou a Eternidade é o próprio Deus; ou a Eternidade é uma Deusa? Será que Deus tem uma Deusa? Será que são dois em um só?
No estudo kardecista do Espiritismo, eu não encontrei nada científico que elucidasse esta questão tão empolgante aos espíritos da vanguarda brasileira. E nunca vi ninguém abordar esta polêmica tão dinâmica e tão interessante. Apenas observei um comentário do escritor Paulo Coelho que dizia o seguinte: - “porque Deus não pode ser uma Deusa?” Bem pensado partindo do pressuposto que todos os Sistemas da humanidade são absolutamente machistas... Não quero com isto afirmar, categoricamente, que Deus e a Eternidade são a mesma coisa, porque eu não sei dizer... Mas que existe um mistério insondável rondando estes dois seres imateriais e imutáveis, não tenho a menor dúvida. E de tudo que já foi dito, penso que o mais relevante é que a Eternidade, tanto quanto Deus, é incriada... Ora, se a Eternidade é incriada, e não sendo criatura de Deus, tem o seu próprio poder absoluto. E se isto é verdade, a unicidade de um único Deus não existe; pois a Eternidade é, sem sombras de dúvidas, uma extraordinária Deusa... Quem puder que se habilite para solucionar este meu opúsculo pensamento espiritual sobre as duas divindades: ou serão duas em uma?
O ato de pensar é penoso e muito trabalhoso, tanto que eu já estou fatigado de tanto discernir as minhas fragilizadas convicções... Tenho muitas dúvidas...
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 23/09/2010