DESUMANIDADES
Como as pessoas podem ser tão desumanas? Eu tenho me perguntado até onde vai, até onde se alastra o egoísmo humano? As pessoas que se dão bem na vida são frias, calculistas e não medem esforços para alçarem os seus objetivos, os seus mais remotos sonhos. Ainda que para isso tenham que passar por cima dos outros. E os outros são extorquidos, são literalmente jogados ao asfalto como se fossem animais errantes. Ninguém chega perto dos miseráveis, nem o governo – que tem obrigação social – faz alguma coisa.
Eu, que além de cronista sou poeta, fico barbarizado com a modernidade. Que mundo é este que só aconchega alguns filhos duma puta égua (com o perdão da palavra inaudível)? O mundo é de todos. A riqueza do mundo é de todos. Porque alguns homens não entendem o significado da existência material? Porque não aceitam a verdade de que somos todos irmãos? São tantas perguntas sem respostas que não é de se duvidar: estão todos surdos!
“Pimenta nos olhos dos outros é refresco” já nos diz o ditado popular. Quem está por cima não se preocupa com o sofrimento dos que estão por baixo. Nem a morte por abandono, por falta de atendimento médico, é motivo para emocionar os crápulas, os canalhas que dominam o poder de decisão. Basta ver o tamanho da desumanidade com os Sem Terra: são famílias, com crianças desabrigadas, com fome, com vontade de serem abrigadas, aconchegadas pelas mãos da vida. Querem apenas a oportunidade de ser respeitadas como gente. E não de serem tratadas como bichos do mato: até os bichos têm mato para sobreviver...
As celebridades deste mundo de aparências costumam anunciar, na mídia, que estão acalentando os necessitados com gestos caridosos, que ajudam instituições de caridade... Quem eles pensam que enganam... O cronista? Não, o cronista está cansado de saber que as celebridades estão ajudando a si mesmas: ajudar instituições de caridade, e divulgar, dá popularidade. A verdadeira caridade é silenciosa, abafada pela verdadeira vontade de ajudar o próximo. Em verdade, eu vos digo: as celebridades ajudam instituições de caridade para descontar no imposto de renda, sem falar que eles ganham mais dinheiro do povo – que comovido abre a mão. Exemplificando: um cantor que anuncia que é caridoso vende mais discos... Onde está a caridade?
O povo tem sido iludido desde os primórdios da humanidade. E, infelizmente, não diminui a sua incapacidade de acreditar nos homens poderosos. Desde o surgimento da Democracia (na Grécia Antiga) que o povo ainda não conseguiu entender o significado democrático: “Todo Poder Emana do Povo, para o Povo e pelo Povo”. Um povo verdadeiramente democrata tem consciência de que detêm o poder. Na Democracia, o Povo é o poder político. O Estado trabalha para o Povo. Será que nós estamos vivendo numa Democracia? Pelo que me consta, o Povo é quem trabalha para o Estado. Então, nós estamos vivendo qualquer coisa – menos uma Democracia!
O poder religioso, não se enganem, é conivente com toda espécie de atrocidades que acontece com as pessoas desassistidas.
O poder econômico, o poder político e o poder religioso formam a pirâmide do Mal deste mundo de desumanidades. São responsáveis por todos os crimes que acontecem todos os dias. E deveriam, em absoluto, serem julgados sumariamente! Se o povo tivesse consciência do seu poder, talvez o cronista ficasse menos preocupado com a sua situação dentro do planeta. Pois esta função de denunciar as deformidades da sociedade é extremamente cansativa e inoperante.
Quem se importa com a minha crônica? A minha única vantagem é esta: ninguém se importa com a minha crônica. Estamos vivendo uma época que ninguém se importa com as coisas dos outros. O egoísmo desenfreado impera no Sistema Global. A internet substituiu o uso dos livros: uso dos livros que já não era grande coisa sem a informatização. Não fosse assim, eu corria o risco de ser torturado, com choques elétricos, do mesmo modo que fizeram ao Geraldo Vandré. A ditadura militar acabou com o cérebro de um grande compositor. E a Democracia, cheirando a anarquia, com quantos cérebros ela está acabando?
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 20/09/2010