IMPACIENTE PACIÊNCIA
Exatamente com sete anos de idade, escrevi o meu primeiro poema, esperando os meus colegas terminarem os exercícios da escola: eu sempre terminava primeiro as atividades escolares, e para ocupar o meu tempo, passei a escrever poesia colegial... Dos quatorze aos vinte e quatro anos de idade, eu escrevi 100 livros (trinta de prosa e setenta de poesia), numa frenética e irreverente produção literária, onde as janelas dos sonhos revolucionários abriram-se literalmente aos meus encantos juvenis... Toda esta vasta literatura pellisoliana foi destruída por pessoas da minha família – indignas de quaisquer tipos de adjetivos, sob pena de ter que me aborrecer seriamente sobre a questão...
Vou fazer cinqüenta e três anos de idade, e continuo exercendo as minhas atividades literárias e artísticas, ainda que o meu destino trágico, longe do grande amor e do sucesso almejado, esteja me induzindo a um sofrimento expiatório extremamente desgastante e penoso... Quero ser feliz como um pássaro revoando aos ventos literários e artísticos; mas estou travado – numa situação financeira de uma indumentária num vácuo caótico... As mansões dos universos infinitos ainda não estão me ofertando a guarita necessária para eu repousar sobre o edifício da minha arte, ainda que o pai da justiça – ó grande Xangô – esteja me supervisionado neste teor das minhas obras literárias e substancialmente artísticas...
A velhice está chegando, e ainda continuo anônimo, trabalhando insistentemente, sem perceber nenhum tipo de remuneração e nenhum apoio cultural do governo, ou de quem quer que seja: os oceanos da minha solidão invadem as minhas frágeis perspectivas de uma auto-ajuda, ainda que existam poucos fragmentos intelectuais latentes no meu subconsciente – subsídios indomáveis e insondáveis de uma energia alva sumamente perseverante aos meus objetivos vanguardeiros e revolucionários... Não me importo se eu não for reconhecido em vida; importa-me a repercussão da minha arte em prol da evolução da nossa humanidade – ainda muito submissa à inferioridade intelectual e moral...
A minha paciência impaciente tem sido a responsável pelas minhas avenidas herméticas destes sonhos abstrato-surrealistas, onde o meu subconsciente comanda a operacionalidade mecânica das minhas idéias vanguardistas, entrelaçado numa substância divina que nunca me deixa incorrer ao suicídio e perecer... Eu me lapido tanto, pois quero ser a tulipa mais linda, que ainda não ser uma celebridade, na altura deste meu campeonato idoso, me propicia uma estupenda impaciência paciente – num paradoxo excepcional da minha estruturação humana, artística e espiritual: tanto que sofro montanhas de suplícios atordoantes, tentando desenvolver a minha arte...
Tendo saúde, subsistência remediada e um inteligente raciocínio lógico, ainda que eu me aproveite intensamente do meu insondável ilogismo, pois a minha ilógica das coisas é mediunicamente explicável em controvérsias, só posso agradecer a oportunidade de ser o artista que sou... No mais, são ambições materiais frívolas e desimportantes...
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 20/09/2010