Fernando Pellisoli
Sou o Poeta da Loucura da Pós-modernidade
Textos
EU SOU POETA



Não sei escrever algo sem a interferência do meu eu- poético. É sempre o meu eu que comanda a narrativa. É tanta coisa que se tem para escrever, mas o meu eu está sempre presente: é bem verdade que participei de um concurso de contos (e fui premiado), onde o meu eu conseguiu ficar mascarado, que até eu mesmo custei a perceber o meu eu, completamente descarado, protagonizando a minha história. É por isso que eu tenho a certeza de que em minhas veias navega a poesia. Tentar escrever um livro de crônicas (como estou tentando) é uma tarefa árdua, difícil de ser executada, para um simples poeta como eu sou. Escrever um livro de contos ainda é tarefa mais complicada, porque o conto tem várias personagens, e o meu eu poético deseja o melhor papel, sempre. Eu posso enganar o leitor que eu não sou eu mesmo no texto, mas não posso enganar a mim mesmo – sou e sempre serei apenas um poeta.
Talvez a crítica, um dia, possa tecer algumas palavras de elogio sobremaneira à minha literatura narrativa, ao meu estilo de lidar com a prosa. É possível que eu seja um cronista e um contista reconhecido: nada é impossível neste mundo encantado da literatura. Mas eu percebo que o meu eu está sempre presente dentro do meu texto. Isto já é fixação! É uma loucura incontrolável de querer se expressar, é poesia vertendo poemas a todo instante, sem se preocupar com o momento do cronista. Se é que eu posso me considerar um cronista diante desta constatação: sou poeta! Por mais que eu diga ao meu poeta que eu não sou apenas um poeta, quando eu me sento diante do computador, a escrever uma crônica, ainda assim eu apareço em todos os parágrafos.
Quando eu leio as maravilhosas crônicas de Cecília Meireles, percebo o eu poético entranhado no interior da narrativa. Ela, como eu, também, tem a sina de ser poeta. Mário Quintana disse que (ao escrever contos) estava sempre se contando e, então, resignou-se a ser apenas um poeta. Ser apenas poeta é maneira de escrever, pois a linguagem poética, o seu ritmo é, indubitavelmente, manejado de forma brilhante somente pelo poeta. O poeta pode escrever boas crônicas; mas o cronista não consegue escrever boa poesia. O poeta lida com a linguagem conotativa, enquanto que eu cronista lido com a linguagem denotativa. São duas vertentes do pensamento humano completamente oposto: o cronista fala da realidade dos fatos cotidianos, e o poeta fala de si mesmo, das suas emoções, dos seus amores, das suas frustrações, etc. E é por isso que eu não tenho a menor dúvida de que sou poeta, nasci para ser poeta e vou morrer poeta. “Quem quiser que me faça outro!”.
Mais um assunto que eu narrei com a vontade, na verdade, de estar fazendo poesia (boa poesia se assim os espíritos superiores permitirem), mas resolvi aceitar o desafio de ser, além de poeta, um bom escritor. É claro que serei sempre apenas um poeta que chora lágrimas de sangue, que morre de saudades da musa inspiradora. Ser cronista não é sonho; é necessidade de ser escritor. Necessidade de provar o domínio com a narrativa: nada, além disso. Um poema é como se fosse um filho. É um ato de amor em cada criação poética. Mas isso não significa que não tenho amor narrativo: óbvio que eu escrevo sempre com o maior carinho todos os meus textos. Eu amo a literatura e para ela eu vivo. Vocês percebem o meu eu poético: “Eu amo a literatura e para ela eu vivo.” Não tem jeito, encerro esta crônica convicta que sou apenas um poeta – quem sabe, talvez, um bom poeta...











FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 19/09/2010
Comentários