Fernando Pellisoli
Sou o Poeta da Loucura da Pós-modernidade
Textos
INSPIRAÇÃO


Nem sempre eu tenho a mesma inspiração para criar os meus textos literários. E isso é frustrante, depressivo e, no entanto, emocionante: fica visível e lógico perceber que o domínio da escrita independe do talento natural do escritor. É provável que o poder de criação dependa, também, da vontade dos protetores espirituais (quero dizer dos espíritos superiores), para que a arte literária aconteça. Longe estou da certeza de que agora estarei fazendo boa poesia ou uma boa crônica. Tenho consciência de que não sou dono da minha inspiração, quando fico inerte diante do computador, e o texto não aparece. Sei, por isso, que a minha inspiração depende da influência dos meus mentores espirituais. E partindo deste pressuposto, é crível que eu tenha de estar em sintonia, em comunicação espiritual, para que a verdadeira arte aconteça. Não é preciso ser espiritista para concordar com a transmissão de idéias por parte dos anjos de guarda. O nosso pensamento é, indubitavelmente, influenciado pelo mundo espiritual, desde que, é claro, estejamos conectados aos espíritos superiores.
Já sou suficientemente maduro para condizer, ao meu amigo leitor, que a arte que divulgo não é necessariamente minha, que eu sou uma espécie de impostor das letras e das artes. Pois não posso comprometer-me com o ridículo, com a inverdade artística: sem a ajuda do meu anjo de guarda não seria possível a realização da obra de arte. É óbvio que sou eu que tenho suma relevância no trabalho criativo que realizo, mas não posso afirmar que tudo depende exclusivamente de mim, pois não é assim que as coisas funcionam. Minha inspiração (sozinha) não produz boa literatura, não cria boas telas de pintura, nem faz boas esculturas. A beleza (o visual da obra de arte) é promovida com a ajuda espiritual. E se estou dando ênfase a esta evidência, é porque desejo explicar a minha falta de assunto. A minha falta de poder, de decidir o que eu vou escrever, ou se não vou escrever alguma coisa. A arte não é mecânica, não é sintomática por si só. É verdade, eu sou escravo da escrita. É ela que decide o que vai fazer comigo. Eu dependo da escrita muito mais do que a minha inspiração, ainda que a inspiração seja o único recurso que, efetivamente, me faz escrever. Sem a minha inspiração não sou poeta, não sou artista plástico, não sou ninguém. Mas importa-me dizer que minha inspiração sozinha não navega pelos mares da idealidade, que se eu não for poeta do mundo não adianta ser poeta. É por isso que muitos escritores naufragam pelo caminho da pretensão literária, e não alcançam a glória.
Eu queria que vocês soubessem o quanto está sendo difícil escrever esta crônica. Eu não estou, absolutamente, com ânimo para escrever nada. Mas o meu anjo de guarda está me ajudando, me inspirando e me guiando a toda hora. Então, eu escrevo, ainda que desanimado, o texto, paulatinamente, sempre pensando no entendimento do leitor. O leitor é mais importante que a minha inspiração. É ele que vai me desafiar e ordenar o meu destino. Se ele não gostar do meu trabalho, estou frito. Condenado, literalmente, ao anonimato, ao fracasso literato. A minha inspiração só funciona com a inspiração divina. E, às vezes, nem com a inspiração divina ela funciona. Neste caso, o melhor é desligar o computador. E aceitar que “o mar não está para peixe”. Melhor mesmo é ler um bom livro e esquecer a escrita, mas o texto ainda não terminou... E eu sou insistente o suficiente para continuar pedindo ajuda ao meu anjo de guarda.
Esta crônica está sendo escrita no intuito de esclarecer ao leitor o quanto é difícil a arte de escrever. É um momento sagrado, é verdade, mas extremamente doloroso e fatigante. É inacreditável que eu ainda esteja insistindo neste texto. Melhor seria se eu o recomeçasse amanhã. Mas eu tenho medo de perder a inspiração e, então, perder o texto. Só por isso, por mais nada, é que eu continuo tentando escrever esta crônica insuportável. Mas se o meu destino é escrever, não posso abandonar o texto... Eu quase não consigo não deixar de abandoná-lo. Eu poderia, evidentemente, colocar o ponto final nesta crônica. Seria uma maneira fácil de livrar-me dela. Mas a minha inspiração insiste em prolongar esta narrativa além do necessário. De se tornar uma mala sem alça, pois o necessário já foi dito. Chega!
Graças a Deus eu cheguei ao último parágrafo. E, agora, o que dizer além do que já foi dito? Talvez eu ainda não tenha sido entendido: escrever sem inspiração não funciona. Mas só a inspiração não é suficiente, não cria a obra de arte. Eu tenho a leve impressão que estou ficando repetitivo, que já falei da inspiração mais que o suficiente. Eu não acredito que (num dia sem nenhuma inspiração) eu já tenha escrito tanto. Eu se fosse o leitor não terminava de ler esta crônica, pois na verdade ela já acabou... Então a inspiração nem sempre está inspirada. E sem a inspiração divina, a inspiração humana não é nada. Ah, eu nem acredito que estou terminando este trabalho! Embora tenha sido muito difícil realizar esta crônica, eu estou muito feliz de ter conseguido escrever – sem vontade nenhuma de escrever! Mas agora eu quero dizer que estou chegando ao fim. Portanto, não tenho mais nada a dizer, a não ser que a inspiração é a chave fundamental para abrir a porta da criação. E sem o poder do anjo de guarda é impossível, inimaginável, tentar escrever...


FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 19/09/2010
Alterado em 19/09/2010
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