Fernando Pellisoli
Sou o Poeta da Loucura da Pós-modernidade
Textos
Á MINHA PSIQUIATRA


Doutora Tatiana, o que a senhora sabe da minha existência terrena, além de prescrever as receitas médicas, que me dão acesso, nas farmácias, aos teus controlados? E sobre as minhas complexas emoções de um poeta louco, o que a doutora sabe – além do trivial das consultas? Saberia muito mais da minha crível pessoa controvertida, dos meus labirintos subconscientes do meu Superid, se tivesse mais tempo disponível para estudar a minha poesia surrealista subjetivista e hermenêutica; e aprofundar os teus estudos na minha prosa revolucionária... Contenta-se com apenas os vinte minutos das tuas consultas para conhecer o Poeta da Loucura, o precursor do Teatro da Loucura e precursor do Livre-Expressionismo nas Artes Plásticas? Talvez tudo isso que eu digo ser, não passe de vertigens sintomáticas desta minha exacerbada loucura – na tua tênue e modesta opinião evidentemente... Será que estou equivocado?
Se o teu papel como psiquiatra é apenas me receitar os teus controlados, que só evitam que eu surte, pois estas dependências químicas desagradáveis aos nossos organismos humanos são responsáveis pelos surtos psiquiátricos: jamais tive um surto, antes de fazer uso de medicações fortes; ainda que já possuísse os sintomas agressivos da bipolaridade... Depois que eu comecei a fazer uso destas medicações, e interromper o tratamento medicamentoso, surtei em quatro oportunidades: será que não foi à interrupção brusca da medicação a causadora dos meus surtos? A minha insônia veio junto com o meu distúrbio de humor, e, atualmente, só consigo adormecer sempre com 10 gotas de rivotril e um comprimido de amplictil: será que estou condenado a me intoxicar até o último dos meus dias? Doutora Tatiana, eu não estou conseguindo escrever e assinar o meu nome? Que barbarismos psíquicos são estes em minha vida calejada por tanto sofrer nestas escavações da minha mente? Se pudesses me aliviar emocionalmente, sem o uso de fortes medicações controladas, teria disposição freudiana para analisar os meus sonhos psicodélicos? Ou será que talvez preferisse me internar num manicômio judiciário? Tenho aspecto de um maníaco avassalador irremediável? Sou imbatível literato a assustar os meus leitores com as minhas conjecturas eruditas ilusicionistas? Tenho promovido o suicídio como a única solução viável às soluções de nossos problemas? Ou tenho sido um filósofo e pensador espiritista, espalhando o sentido espiritual da caridade e a idealização do amor divino? Será que a digníssima doutora Tatiana sabe avaliar os aspectos positivos e os aspectos negativos da minha personalidade?
Eu queria te dizer, doutora Tatiana, que esta tua psiquiatria só se preocupa em receituários medicamentosos; mas eu tenho a certeza de que os psiquiatras não lêem sequer a bulas dos remédios receitados, ignorando os possíveis efeitos colaterais apresentados pelos pacientes: quando um paciente se queixa de alguma coisa estranha ao seu organismo, a psiquiatria diz serem sintomas colaterais da medicação psiquiátrica – não tem sido assim, doutora Tatiana? Ou estou alucinado e faltando com a verdade? Eu não faço análise, porque não acredito no poder translúcido da psicanálise – ainda que o Freud possa me explicar os mecanismos obscuros da minha loucura escarpada... E tudo isto, porque a minha doutora Tatiana, além de linda, não se submete aos meus encantos de poeta latino-americano sem dinheiro no banco, e com olhos azuis-esverdeados... Talvez, a minha doutora Tatiana tenha um homem mais bonito e com os pés fixos ao chão: eu sou um eterno sonhador, e vivo a navegar pelos espaços siderais dos universos infinitos...
Doutora Tatiana, sonhar sempre foi uma ponte à realidade... Talvez existam diferentes sonhos; mas todos nos levam às realizações – quando eles são idealizados numa perseverança sobrenatural... As maiores complexidades existenciais são solucionadas através dos nossos sonhos... O que a senhora sabe dos meus sonhos, além da minha vontade em me ver realizado como artista revolucionário? Tens o conhecimento preciso da minha precoce paranormalidade? Das minhas conversas hiper-telepáticas com os Espíritos Superiores? A senhora não acha que a Medicina psiquiátrica tem muito que aprender com o advento do Espiritismo? Eu tenho analisado a complexidade desta minha existência, estudando a ciência e a filosofia espírita... Talvez, pudesse entender melhor as minhas lamúrias, doutora Tatiana, se estudasse a doutrina espiritista... Somos espíritos eternos, nada mais justo e óbvio que estudemos as leis dos mundos espirituais, pois a tenente doutora Tatiana há de convir, não é mesmo? A senhora não tem um pingo de curiosidade?
Poderíamos nos entender melhor se fosse possível eu desintoxicar o meu organismo dos efeitos do carbonato de lítio, voltando a ser uma linda pessoa alegre como sempre fui; desligando-me desta depressão melancólica que o lítio me propicia cotidianamente: é muito triste estar sempre angustiado e tristonho, minha querida e estimada doutora Tatiana, tanto que o meu desinteresse pela vida fica sempre muito acentuado nos meus cotidianos entediados... Se tivéssemos um envolvimento emocional mais sério – digo: um caso amoroso (pois tudo é possível), talvez a tua renomada psiquiatria pudesse ser mais eficiente, pois nos conheceríamos muito melhor – e o teu diagnóstico poderia ser aperfeiçoado, quando se tem amor pelo paciente... Estou apenas conjecturando, e jamais lhe dando uma cantada, pois a respeito como uma competente profissional da medicina psiquiátrica, sendo um atencioso paciente...






FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 17/09/2010
Alterado em 18/09/2010
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