SAUDADES DE AMAR
Faz uma década que o sexo desapareceu da minha vida anormal, de uma maneira abrupta, extensivamente mítica, desafinando os aspectos psicológicos e emocionais dos meus sonhos prazerosos e orgásticos... Uma coisa salutar é que eu não tenho o hábito de usar camisinha, não por concordar com a bestialidade do Papa, quando diz que o uso da camisinha é contrário às leis de Deus; mas por me sentir privado de sentir a libido ao plastificar o meu pênis: acho profundamente improcedente e broxante – e como as antas e irresponsáveis aidéticos estão à solta, disseminando o vírus da AIDS, Deus, por saber da relevância da minha missão literária e artística à nossa humanidade, achou por bem isolar-me das atividades sexuais extraconjugais... E quando digo atividades sexuais extraconjugais é porque estou divorciado da mulher que ainda amo; mas se fazer sexo é relevante ao bom andamento da saúde física e mental, como eu posso extravasar as minhas fantasísticas e orgásticas necessidades libidinosas: tenho estado tão desativado sexualmente, que nem mesmo a prática da masturbação tem sido exercida opcionalmente como estratégia do gozo...
Como é bom poder amar a mulher amada, acariciar a sua pele macia e sedosa, beijar a sua boca carnuda, beijar o seu corpo inteiro, principalmente nas áreas erógenas, fomentando o desejo insaciável neste grudar dos corpos entorpecidos de orgasmos expressivos... Acordar e sempre adormecer sem o cheiro peculiar da mulher amada é um mandato ditador dos tormentos esquizogenéticos difundidos pelos poros dilatados da minha pele insatisfeita nos desejos reprimidos na desesperança letal do sentir-se amado... Entendo que este meu insulamento amoroso esteja sendo calculadamente examinado por Deus, numa alva percepção metafísica, onde eu possa dar seqüência ao meu necessário amadurecimento espiritual; considerando que eu sou um artista revolucionário – tendo muito mais que fazer ao desenvolvimento humano das nossas sociedades, ainda no poço das incivilidades sociais...
Mas se amar é tão bom, porque não posso mais te amar, ainda que esteja predestinado a amar a humanidade? Será que não sou suficientemente competente para fazer as duas coisas, ou será que as luzes da minha cidadania encontram-se nos subterrâneos da abstinência sexual? Mas e você meu doce amor, como vai você? Quantos orgasmos com outro qualquer, ainda que só vibrasse em mim? Quanta saudade acumulada nas entranhas do teu ser mimoso? Quantas vezes por noite você pronuncia, sussurrando, o meu nome? Coisas do passado, coisas de poeta iludido ao pensar que a minha presença é tão desejada; pois a tua presença (querida amante) é sempre desejada nos meus dias e nas minhas noites de solidões inescrupulosas e nefastas... Estou proibido de te amar; mas o mundo ainda não vai acabar, porquanto o desejo de te amar outros milhões de orgasmos é sempre incomensurável...
Saudades de amar é um quadro azul surrealista do Salvador Dali, derretendo uma linda morena carioca sobre os meus sonhos empedernidos de abstinências orgásticas... Saudades de amar é um figurino completo, vestindo as minhas estremecidas emoções romancísticas...
FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 16/09/2010
Alterado em 18/09/2010