Fernando Pellisoli
Sou o Poeta da Loucura da Pós-modernidade
Meu Diário
27/10/2010 01h24
MEU PRIMEIRO CASO
 
Ainda estava namorando a minha lindinha; mas só haveria de fazer sexo com ela, à medida que ela fosse se regenerando das balbúrdias sexuais espalhadas por toda a cidade: jamais a faria minha mulher sem antes vê-la amadurecer e criar juízo... Mas eu já estava com 17 anos de idade, e precisava exercitar a minha virilidade com alguma mulher experiente – para aprender tudo... Encontrei uma universitária de veterinária chamada Verona: uma mulher morena, charmosa e sensual... Ficamos amantes; mas eu não conseguia a ereção com a coitada: era coisa de pele, de formatação corporal, de cheiro de sexo adverso... Mas, ainda assim, continuamos a nos encontrar, mantendo uma relação intelectual e filosófica de amantes indigestos...
Depois de algum tempo, decidimos, em conjunto, poupar todo o dinheiro possível até o fim do ano; pois haveria de realizar o meu grande e louco sonho de conhecer a cidade maravilhosa: Verona tinha um casal de amigos cariocas, e nós teríamos onde nos hospedar – o dinheiro que juntássemos seria para o nosso divertimento... Não é necessário dizer; mas eu fui juntando todo o dinheiro possível que passava pelas minhas mãos – sempre de fonte honesta, e ficava sonhando com o final do ano e com a minha viagem ao Rio de Janeiro; onde habitavam os grandes artistas do Brasil e do mundo inteiro...
Eis que chegou o fim do ano. A Verona chegou à minha casa, e estava com uma cara estranha... Eu perguntei o que estava acontecendo para ela; mas ela desconversou... Fiquei muito desconfiado de que alguma coisa em relação a nossa viagem estava sinistra... Depois de muito insistir, consegui arrancar dela a verdade: ela havia passado uma semana com a família dela, que morava em Pelotas, e, emotiva, distribuiu presentes para toda a família – e a sua parte do dinheiro juntado com muito sacrifício desapareceu... A Verona me disse que não iria mais ao Rio de Janeiro – na maior cara dura e simplesmente inconseqüente... Levantei-me do sofá, olhei no fundo dos olhos dela e disse: nós vamos viajar ao Rio de janeiro, e vamos como mochileiros – na estrada... A minha mochila já está pronta; vamos até a tua casa para arrumarmos a tua mochila que a estrada nos espera... Ela ficou muito desorientada; mas eu praticamente a obriguei a se aprontar para uma grande aventura...
Quando o dia estava clareando, entramos estrada à dentro, com as mochilas nas costas, pedindo carona aos caminhoneiros... Eu estava furioso com Verona, e não lhe dirigia a palavra, enquanto íamos saindo de um caminhão e entrando em outro... Depois de 4 horas de viagem mal acomodados na cabine dos caminhões, a Verona resmungou que estava com fome: entramos num restaurante de estrada, e eu pedi duas taças de café, e fui logo dizendo que não iria gastar todo o meu dinheiro na estrada; pois era no Rio de Janeiro que iria aproveitar e gastar o meu dinheiro... Disse a Verona que ela iria passar fome na estrada, pois era preciso que aprendesse a ter responsabilidade – e que quando se combina alguma coisa com o parceiro, devemos cumprir com o combinado; coisa que ela não havia feito... Haveria de aprender a levar a sério os compromissos, passando fome na estrada que por certo a faria nunca mais se esquecer de ser correta e responsável com os seus compromissos...
Continuamos a viagem com os caminhões por um bom trecho do percurso, pois era mais seguro – e ainda pagavam cafezinhos... Mas a viagem estava se tornando demorada e prolongada, e eu decidi que iríamos pegar carona com automóveis velozes... Verona ficou assustada; mas eu disse que ela  poderia escolher: voltar sozinha ou seguir em frente com a minha péssima companhia – ela escolheu seguir em frente comigo, ainda que tivesse passando fome... Eu, também, estava passando fome, pois o dinheiro que eu havia juntado era muito pouco; mas daria para passar 2 meses na zona sul carioca – casa e comida, nós teríamos com os amigos cariocas de Verona...
O primeiro carro que nos deu carona voava na estrada, com um sujeito aloucado, que, repentinamente, resolve fazer uma ultrapassagem de grande risco: por segundos nós não fomos para o outro lado da vida – um grande susto! Mas foi pegando caronas, com sujeitos mal encarados, que fomos entrando na cidade maravilhosa dos meus sonhos: o sujeito da última carona era do Bem, e nos mostrou toda a zona sul carioca – fiquei deslumbrado, ou melhor, desmunhecado... Nunca poderia imaginar que o Rio de Janeiro (do qual só havia conhecido por cartões postais) fosse tão lindo: uma estupenda exuberância do esplendor! Eu disse aos gritos para a Verona: “eu vou morar aqui!”
Ficamos dois meses no Rio de Janeiro; mas eu terminei o meu caso com Verona e lhe disse: “daqui pra frente é cada um por si aqui no Rio”... Eu fiquei em Taquara, na casa da noiva do Marcos – que se chamava Gabriela... Todos os dias serviam berinjela (no almoço e na janta), e eu, que sempre comi de tudo, não suportava nem olhar para a berinjela: era berinjela ensopada, berinjela recheada, berinjela assada, berinjela frita – eu fui engolindo a contragosto; mas acabei por gostar da dona berinjela... Acordava cedinho para pegar o ônibus e ir para a Barra da tijuca, Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon... Às vezes cruzava com a Verona, que ficou na casa do Marcos, mas não lhe dava a mínima atenção; e muito menos o meu mísero dinheirinho juntado com milhares de sacrifícios... Aproveitei o que eu pude da zona sul carioca, inclusive alguns namoros de adolescentes... Depois de passados os dois meses de curtição, estava muito decidido a morar na zona sul carioca: haveria de encontrar uma oportunidade, e a minha aguçada intuição me dizia que a minha vontade iria se materializar...
Arrumadas as mochilas, eu e Verona tínhamos que retornar ao sul, e agora sem dinheiro até para o cafezinho... E começamos a viagem sem nos falarmos, e assim fomos viajando, de carro em carro, sem uma palavra: a Verona era uma morena charmosa, e os homens se insinuavam com ela; mas eu não tomava conhecimento de nada – tão lúcido e desinteressado por aquela mulher desleal, que foi incapaz de cumprir com a sua parte no combinado... Quando chegamos a Porto Alegre, ela me disse que ficaria: sem despedidas, segui o meu rumo à Santa Maria: e nunca mais ouvi falar na universitária de Veterinária que se chamava Verona...   
 
 
 
Publicado por FERNANDO PELLISOLI
em 27/10/2010 às 01h24