Fernando Pellisoli
Sou o Poeta da Loucura da Pós-modernidade
Meu Diário
24/09/2010 22h49
SEM MEU PAI
 
 
É bem verdade que a minha vida mudou da água pro vinho sem a presença inesquecível do meu pai... Antes de morrer, ele me fez prestar admissão nos três melhores colégios estaduais de Santa Maria; dando preferência ao Colégio Manuel Ribas: eu passei nos três colégios, e meu pai me matriculou no Colégio Manuel Ribas – e foi à última coisa que ele fez por mim, pois morreu em seguida...  
Logo que comecei a freqüentar o famoso colégio, eu pude perceber que era um ambiente burguês (com alunos filhinhos de papai – com os carrões dos papais); muito distante da realidade do meu grupo escolar do primário, onde a maioria do alunato era de gente simples e humilde... As coisas iriam mudar radicalmente em minha vida pessoal e estudantil; pois a falta da presença disciplinar paterna começa a despertar em mim uma vontade ingente de começar a governar a minha própria vida... E isto acontece naturalmente, porque a minha mãe não tinha muito pulso para me conduzir nos meus primeiros passos à adolescência; e a minha rebeldia e a minha personalidade de aluno revolucionário começam a tomar vulto...
A primeira mudança que eu fiz foi deixar o cabelo crescer, pois o meu pai me mantinha num corte de milico – devido a sua influência militar... Com cabelos compridos, colares e pulseiras de miçangas e calça do uniforme escolar com boca de sino com 50 cm de largura, eu ia enfrentar aquela burguesia alienada e metida a besta... O aluno nota dez que eu vinha sendo começa a entrar em decadência intelectual: as notas começam a baixar, e eu começo a me interessar por uma garota rica – mas nunca tive a menor chance com ela... Apesar de me tratar com gentilezas colegiais, nunca me deu nenhuma abertura que pudesse transparecer numa linguagem romântica: eu tive um amor platônico por ela, e ela era muito linda... O garoto mais feio da minha turma, e o mais rico, acabou por namorá-la: ele era arrogante e insuportavelmente pretensioso – e não é de se duvidar que se achasse um sujeito bonito... E devido a esta incrível indisposição que a situação me causou, começou a despertar em mim, com 13 anos de idade, a tragédia que era o capitalismo selvagem – descriminando os pobres...
Os meus conflitos são aumentados por uma doença dermatológica conhecida por Acne Crônica (e vulgarmente conhecida por espinhas), que começa a destruir a beleza da minha pele: eu era um jovem rapaz muito bonito, com um corpo escultural, alto e com um rosto charmoso – e ainda com olhos azul-esverdeados... Alimentava o sonho de ser um grande modelo e um grande ator... Mas a minha doença de pele começa a me enlouquecer, e as primeiras notas vermelhas da minha vida começam a aparecer: as professoras me tiravam da sala de aula, em dias de provas, porque a minha aparência e o meu uniforme eram absurdamente provocativos – ou mesmo apelativo... Estava em crise existencial, e queria chamar a atenção das pessoas e avisá-las que estava sofrendo muito: mas ninguém entendia as minhas contestações, e acabei sendo visto como um péssimo elemento... Ninguém nunca avaliou o meu currículo escolar de um aluno média 10; e eu fui perdendo a minha vontade de estudar... As minhas notas ficavam cada vez mais baixas, e eu cada vez mais indisciplinado e rebelde... Já não estavam mais deixando eu estudar na sala de aula; pois estavam sempre me tirando da sala de aula, indo sempre parar na coordenação ou na diretoria...
Eu tentei fazer política, defender os meus direitos estudantis; mas eu estava vivendo a ditadura militar – e muitos estudantes polêmicos e faladores estavam sumindo de suas escolas – muitos foram mortos... Sentindo que a minha situação se agravava, e que iria ser expulso, pois a minha mãe fora chamada várias vezes no Colégio Manuel Ribas; mas não soube, ou não pode negociar: eu aflorei a minha intuição de que seria expulso sumariamente... Agindo antes da diretoria do Colégio Manuel Ribas, abandonei os meus estudos; completamente decepcionado com o ensino estadual estupidamente desmerecedor de um estudante nota 10...    
 
 
 
 
                                  
Publicado por FERNANDO PELLISOLI
em 24/09/2010 às 22h49